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domingo, 31 de janeiro de 2010

São José e a hipótese do Transporte sobre trilhos



No Valeparaibano de hoje, lemos a seguinte notícia:

"Estudo elaborado por um grupo de especialistas do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) para a Prefeitura de São José dos Campos descarta a viabilidade, a médio prazo, de implantação de metrô de superfície no município, por falta de demanda de passageiros para esse meio de transporte.

O relatório técnico do trabalho sobre eventual implantação de um TRM (sistema de transporte rápido de massa) em São José foi entregue este mês à Secretaria Municipal de Transportes.

Uma das alternativas avaliadas foi a possibilidade de construção do metrô de superfície ou um sistema de transporte rápido de massa no terreno da rede de linhas de transmissão de energia elétrica que atravessa a cidade entre as regiões leste e sul, conhecida como 'linhão', que tem cerca de 22,5 quilômetros de extensão.

De acordo com a Secretaria de Transportes, o estudo aponta que seria inviável utilizar o terreno para um sistema TRM porque parte do seu traçado passa ao lado de bairros populosos, como Jardim Satélite e Parque Industrial, na zona sul, o que obrigaria a implantação de serviço complementar de transporte para o deslocamento da população até a malha do sistema.

SUGESTÕES - Entretanto, segundo a pasta, o estudo não descarta a possibilidade de utilização de parte dessa área para a implantação de corredor viário expresso para carros, desde que integrado ao anel viário.

Como alternativa para viabilizar um sistema TRM, os especialistas sugerem a construção de corredores expressos na malha viária existente, que comportariam um serviço operado por modais VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) ou VLP (Veículo Leve sobre Pneus).

Pela modelagem do estudo, esse sistema poderia ser implantado em corredores viários de bairros populosos como, por exemplo, nas avenidas Andrômeda e Bacabal, região sul, e JK, zona leste, segundo revelou o secretário de Transportes, Anderson Farias Ferreira, ao valeparaibano.

O secretário relatou que o VLP seria um modal interessante para um eventual sistema de TRM a médio prazo, em um horizonte de 15 anos.

"Os veículos teriam portas laterais nos dois lados e trafegariam em corredores centrais de avenidas largas em bairros de grande adensamento populacional", disse Ferreira.

METRÔ - "O relatório não indica qual seria o melhor sistema de transporte rápido de massa, mas aponta sugestões que precisam ser mais avaliadas e detalhadas", afirmou o titular da pasta de Transportes.

As propostas e sugestões do grupo resultaram de um convênio firmado pela administração municipal com o ITA em 2007, com a colaboração da Fundação Casimiro Montenegro Filho, que mantém cooperação com o instituto.

De acordo com o secretário de Transportes, o metrô de superfície foi descartado porque, além de ter um custo elevado de construção, em torno de R$ 300 milhões o quilômetro, não haveria demanda para esse meio de locomoção de massa.

Já o custo do quilômetro de um TRM com corredor para ônibus articulado e bi-articulado é de R$ 15 milhões. Para VLT, são R$ 50 milhões, segundo dados da pasta.

RAIO-X - Atualmente, o sistema de transporte urbano de São José atende em média a 5,8 milhões de passageiros por mês. O serviço possui três lotes operados pelas concessionárias Expresso Maringá e Julio Simões e pela permissionária Capital do Vale. O sistema é complementado pelo transporte alternativo, que possui 80 vans e transporta média 300 mil passageiros mensais."





Comentários:
O estudo parece desconsiderar que um transporte sobre trilhos como este é muito menos poluente que os ônibus. Os técnicos do ITA  propõem a criação de novas faixas de veículos, o que causará mais poluição à cidade. Sobre descartarem um trajeto cortando terreno da rede de linhas de transmissão de energia elétrica, seria apenas uma questão de elaborar outros traçados para o trem.


 Um exemplo de como  um transporte como este poderia ser benéfico: quem estuda na Univap, na Urbanova, sofre muito com os ônibus que saem daquele bairro para o centro. São poucos os ônibus e no horário da saída, sempre estão lotados. Existem apenas duas opões para o estudante: ou vai de Van, pagando cerca de 100 reais por mês ou pega um ônibus lotado na ida e na volta. Um transporte sob trilhos passando naquela região teria demanda na certa. 


Falando em demanda, me parece óbvio que se um metrô de superfície como este tivesse um traçado arrojado, com várias linhas cruzando a cidade, obviamente teria demanda, "roubando" passageiros dos ônibus. Uma prefeitura rica como a de São José poderia ser ousada, subsidiando   o valor da passagem (assim com a prefeitura da capital faz com o metrô), estimulando seu uso e retirando muitos carros das ruas. O projeto do Veículo Leve sobre Pneus também não deve ser abandonado.
A prefeitura deve encomendar estudos similares à outras empresas, mesmo que sejam de fora da cidade.


Interessante projeto de VLP





quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Moradores de Núcleo Congelado do Banhado pedem regularização







Jd. Nova Esperança: Ruas não são asfaltadas e falta de saneamento básico 



O nome do bairro é sugestivo: Jardim Nova Esperança. Com cerca de 1000 moradores, o bairro é um núcleo congelado pela prefeitura desde 2002, o que significa que novas moradias não podem ser construídas.
As ruas não possuem asfalto e o esgoto corre a céu aberto. A maioria das moradias são barracos, e as casas que ali existem são extremamente simples.
A prefeitura de São José fiscaliza o bairro diariamente, coibindo qualquer tentativa de novas construções.

Vista do Banhado: Do alto, sem problemas




Segundo Orildo de Sá da Silva, líder da associação de moradores do bairro e morador do local há 30 anos, o governo municipal não propõe nenhuma melhoria para o local e não pensa nas pessoas que moram no bairro. “A gente vê fotos do Banhado como cartão-postal por toda a cidade, mas a maior parte da população de São José  não vê o abandono que está isto aqui. São feitas reuniões quase que semanais com a Secretaria de Habitação, mas nada é resolvido.” Para ele, existem duas alternativas: ou a prefeitura regulariza  a situação das casas já existentes e realiza obras de urbanização no bairro ou transfere os moradores para algum conjunto habitacional.
Apesar da Secretaria de Habitação prometer aos moradores que eles podem continuar ali, Orildo desconfia. “Agora vão construir a Via Norte. Tenho receio que utilizem isto como pretexto para nos expulsarem daqui”.


(Esta matéria eu fiz em 2008, na Faculdade.)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

É por ti, Fogo!


Precisou aparecer um são-paulino lúcido, para refutar as besteiras que alguns palhaços de plantão falaram contra o Botafogo, após a lamentável derrota para o Vasco no último domingo>


Rica Perrone

Noventa minutos pode parecer muita coisa, principalmente se neles o seu time é humilhado. Em noventa minutos o seu ego vai ao chão ou ao céu, afinal de contas, é o “seu” time, é a “sua” camisa, a “sua vitória e a “sua” derrota. Isso faz do futebol especial.
Mas, perto de 100 anos, noventa minutos se tornam absolutamente nada. Infelizmente hoje em dia a história vale os 90 minutos para muitos torcedores e parte da mídia. Mas não é assim, nunca será. O que aconteceu no Engenhão domingo não reflete o “fim dos tempos”, nem sequer justifica a atitude desesperada e imbecil daquele torcedor.
O Botafogo é um dos mais importantes clubes da história deste país. E isso nenhuma goleada vai mudar.
Claro, dói. Eu sei que dói. O meu já tomou de 7 do mesmo Vasco, e pior, da Portuguesa.
Eu só não aceito o oportunismo de usar uma semana ruim para tentar desmerecer ou destruir uma história. Pois amanhã, se o Botafogo for campeão brasileiro, os mesmos que hoje insinuam o “time pequeno” estarão exaltando a história e a grandeza do Fogão.
Incoerencia faz parte do futebol. O erro grotesco do torcedor ao queimar o manto sagrado de um clube não se justifica de forma alguma. Porém, é capaz de se perdoar.
Ele é um senhor. Viu tudo que o Botafogo teve de melhor, e de repente não consegue mostrar aos seus filhos o tal “super Botafogo” que tanto exaltou. É complicado, absurdo, mas compreensivel.
Ao menos, pediu desculpas. Notou seu erro.
O problema é que ele queimou a camisa e todos viram. O que me preocupa são os que queimam o clube dentro de si, o que é bem pior.
Esquece a derrota pro Vasco, foi só mais um jogo em cem anos de história.
Dizem que o Botafogo está diminuindo, se tornando pequeno.
E eu digo, sem medo algum de estar errado: Jamais!
Bato nessa tecla até o último dia da minha vida. Nos 12 grandes, ninguém mexe. E o Botafogo é um deles.
Com mais torcida que Liverpool e Arsenal, o time tem valor comercial. Basta uma administração competente e ambiciosa a médio prazo que tudo se resolve.
É impossível o São Caetano se tornar gigante, porque sem torcedores você não é nada. Tão impossível quanto imaginar que o clube que fez frente ao Santos de Pelé um dia terá sua historia diminuida ou apagada.
“Mas só tem um Brasileiro”, dizem.
E desde quando o mundo começou em 1971?
Time grande tem essa vantagem. Com camisa, se vai longe em pouco tempo.
Basta uma administração competente, um time montado e 2 anos de projeto. O Botafogo pode ir ao Mundial de Clubes que ninguém vai achar absurdo. E isso se chama grandeza.
Para um pequeno conseguir isso, precisa de alguem pagando tudo por trás, sorte, um baita time e a certeza de que amanhã, quando acabar o investimento, volta a ser pequeno. Ao contrário do Botafogo, que pode passar mais 30 anos perdendo tudo, não deixará de ser grande.
Como um dia me disse, brilhantemente, Pedro Bial: “O que são 100 anos pro Fluminense?”.
O mesmo se aplica ao Botafogo.
Sua torcida, estimada em mais de 3 milhões, está cansada. E qualquer um cansa ao ver um gigante se portar como um qualquer durante anos. Mas, são fases. O que são os últimos 20 anos para o Botafogo?
Quando você abre a boca pra falar sobre a história do futebol brasileiro em sua formação, o maior do mundo, você passa obrigatoriamente pelo Botafogo. Mas, note, curiosamente, não passa pelo clube que hoje mais vence no país, o SPFC.
Isso não diminui o Tricolor, nem o Botafogo.
São fases, e estamos apenas encerrando o primeiro centenário deste ciclo.
Hoje lá em cima, amanhã lá em baixo, e assim segue o futebol.
Vai chover gente dizendo: “Não ganha nada!”, “Não tem CT”, “Não é grande”, etc, etc, etc.
O SPFC, até 1989, não tinha nada também. Estava na “série B” do estadual. E hoje é o que é.
O Flamengo, até 2009, vivia esperando o Brasileirão que nunca vinha. Devia, brigava pra não cair. Hoje é o campeão, mais falado do país e novamente o de maior exposição nacional.
O Palmeiras ficou 20 anos na fila. Depois ganhou tudo, foi a Toquio.
O Corinthians ficou 20 anos na fila. E ganhou tudo.
Vinte ou trinta anos não representam uma história completa, mas sim uma fase dela.
O Botafogo está, há anos, em baixa. Isso é fato.
O que, no meu entender, e acho que no dos 3 milhões de torcedores do clube também, não diminui em nada o tamanho e a importancia deste gigante do futebol brasileiro.
Dias melhores virão. Hoje ou daqui 20 anos, virão.
Estejam certos disso, e jamais ousem rabiscar algumas das mais belas páginas da história do nosso futebol em virtude de tropeços e fases ruins.

Dica de filme: The Man From Earth





Um filme para ser bom não precisa ter cenários suntuosos, uma grande produção ou atores de primeira linha. Precisa, antes de tudo, de uma boa história. Isto, "The man from Earth ("O homem da Terra") tem de sobra. A história é sobre John Oldman, professor de história que está indo embora da cidade e recebe os seus melhores amigos do trabalho em casa, para uma despedida. Nisto ele resolve contar a verdade: possui 14 mil anos e precisa se mudar a cada 10 anos, quando as pessoas começam a perceber que ele não envelhece. Obviamente, a princípio todos duvidam, mas sua argumentação é bastante consistente. Assuntos como religião, biologia e ceticismo sustentam a história, com citações bem coerentes dentro de vários campos do conhecimento. Vale a pena assistir.

Kraftwerk: The Telephone calls

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Bertrand Russell- Ensaios Céticos




Brindo hoje os leitores deste blog com alguns trechos de um dos meus livros favoritos de Bertrand Russell.
Filósofo e ganhador do prêmio nobel, ele coloca no chinelo muitos ditos "escritores" que vemos por aí.

Vamos aos trechos:

Edição Prêmios Nobel de Literatura. Editora Opera Mundi, 1970.

II - Sonhos e fatos.

II -

[...] Há duas maneiras de corrigir nossas crenças naturais: o contato com o fato, como quando confundimos fungo venenoso e um cogumelo e sofremos as conseqüências; e quando nossas crenças colidem, não diretamente com o fato objetivo, mas com as crenças contrárias de outros homens. [...]
(pág. 71).

            Muitos podem afirmar que, mesmo que os sistemas inventados pelos homens sejam falsos, são inofensivos e consoladores, e não deveriam ser perturbados. O caso é que não são inofensivos, e que o consolo que propiciam é pago bem caro pelo sofrimento inevitável que levam os homens a tolerar. [...]
(pág. 75).

            À parte todos os argumentos utilitários, a busca da felicidade que se baseia em crenças falsas não é nem muito nobre nem muito gloriosa. Há uma crua alegria na percepção destemida de nosso verdadeiro lugar no mundo e um drama mais vívido do que é possível aos que se ocultam atrás das mulharas do mito. Há "mares procelosos" no mundo do pensamento que só podem ser singrados por quem esteja disposto a enfrentar sua incapacidade física. Acima de tudo, a liberdade da tirania do Medo, que obumbra a luz do dia e mantém os homens rastejantes e cruéis. Não se liberta do medo o homem que não ousa enxergar o seu verdadeiro lugar no mundo; nenhum homem pode alcançar a grandeza de que é capaz antes de se permitir ver a própria pequenez.
(pág. 75-76).

XII - O pensamento livre e a propaganda oficial

[...]
            William James costumava pregar o "desejo de crer". De minha parte, desejaria pregar o "desejo de duvidar". Nenhuma de nossas crenças é completamente verdadeira; todas têm pelo menos um vestígio de erro e imprecisão. São bem conhecidos os métodos de aumentar a dose de verdade de nossas crenças; consistem em ouvir todos os lados, procurar verificar todos os fatos relevantes, controlar nossa própria inclinação por meio da discussão com pessoas que têm tendência oposta e cultivar a disposição de abandonar qualquer hipótese que se demonstre inadequada. Estes são os métodos praticados pela ciência e que criaram os cabedais do conhecimento científico. Todo homem de ciência, que tenha atitude verdadeiramente científica, está disposto a admitir que o que passa por conhecimento científico num momento com certeza exige correção, à medida que progridem os descobrimentos; não obstante, é suficientemente próximo da verdade para servir a fins práticos. Na ciência, único campo em que se encontra algo parecido com o conhecimento genuíno, a atitude do homem é tentativa e cheia de dúvida.
(pág. 182).

            Tivemos em anos recentes o bilhante exemplo da têmpera de um espírito científico na teoria da relatividade e sua recepção pelo mundo. Einstein, um pacifista judeu-suíço-alemão, foi nomeado para uma cadeira de pesquisas pelo governo alemão, no princípio da guerra; suas predições foram verificadas por uma expedição inglesa que observou o eclipse de 1919, logo depois do Armistício. Sua teoria sacode todo o arcabouço da física teórica tradicional; faz quase tanto dano à dinâmica ortodoxa quando Darwin à Gênese. No entanto, em toda parte dos físicos demonstraram completa disposição de aceitar sua teoria assim que as provas pareceram favoráveis. Mas nenhum deles, e muito menos Einstein, proclamaria ter dito a última palavra. Ele não construiu um monumento de dogma infalível a desafiar os séculos. Há dificuldades que ele não sabe resolver; suas doutrinas terão de ser modificadas por sua vez, como alteraram as Newton. Esta receptividade crítica adogmática é a verdadeira atitude da ciência.
(pág. 183).

[...] Por fim, a verdade ou a falsidade da doutrina seria decidida no campo de batalha, sem se coligir quaisquer provas contra ou a favor. Este método é a conseqüência lógica do desejo de acreditar, de William James.
            O de que precisamos não é do desejo de acreditar, mas a vontade de descobrir, que é exatamente o contrário.
            Se se admite a desejabilidade da dúvida racional, torna-se importante indagar como veio a disseminar-se no mundo tanta certeza irracional. Grande parte dela é devida à irracionalidade inerente e à credulidade da natureza humana comum. Mas esta semente do pecado original intelectual é nutrida e tutelada por outros agentes, entre os quais três se destacam, a saber, ensino, propaganda e pressão econômica. [...]
(pág. 183-184).

XIV - A liberdade em face da autoridade no ensino

[...] A verdade cabe aos deuses; do nosso ponto de vista humano, é um ideal, do qual nos podemos aproximar, mas que não podemos esperar atingir. A educação deve preparar-nos para a maior aproximação possível da verdade, e para isto precisamos ensinar a lealdade. No meu entender, lealdade é o hábito de formar nossas opiniões pelas provas e mantê-las com o grau de convicção que a prova permite. Este grau jamais atingirá a certeza completa, e devemos portanto estar sempre sempre dispostos a admitir novas provas contra crenças anteriores. Além disso, quando agimos sob impulso de uma crença, devemos, se possível, fazer o que for útil, mesmo que a nossa crença seja mais ou menos inexata; devemos evitar atos que seriam desastrosos, não sendo a nossa crença absolutamente verdadeira. Em ciência, o observador anuncia os seus resultados juntamente com o "erro provável"; mas quem já ouviu falar de um teólogo ou político mencionar o erro provável dos seus dogmas, ou mesmo admitir que o seu erro seja concebível? Isto porque em ciência onde mais nos aproximamos do conhecimento real, o homem pode confiar tranqüilamente na fortaleza do seu caso, enquanto que, onde nada se sabe, a asserção tonitruante e o hipnotismo são os meios costumeiros de levar os outros a partilhar de nossa crença. Se os fundamentalistas achassem que tinham bons argumentos contra a evolução, eles não tornariam ilegal o seu ensino.
(pág. 220-221).

Um bairro esquecido pelo Poder público


Estive recentemente no bairro Interlagos, daqui de São José, para visitar um amigo. Como não sabia onde deveria descer do ônibus, perguntei ao cobrador. Prontamente, várias pessoas me auxiliaram  e explicaram o local em que deveria saltar. Esse senso de ajudar o próximo das pessoas, em especial as mais humildes, é fantástico.
Já o bairro pena nas coisas mais essenciais. Apesar de populoso, perto de grandes bairros de classe média como Bosque dos Eucaliptos e Satélite, o bairro possui somente um supermercado, nenhuma agência bancária, um comércio deficitário, nenhum posto policial e nenhuma agência dos correios. Ao que consta, a polícia também pouco passa por lá.
Os grandes projetos de urbanização que vemos em bairros de classe média ou classe alta de São José dos Campos também ainda não chegaram ao Interlagos.

Para se chegar ao bairro, há somente uma estrada, em péssimas condições e muito estreita. O risco de acidente em uma via de mão dupla como aquela é muito alto, ainda mais à noite.

Está na hora do Poder público atender melhor as regiões mais carentes de São José. Uma população tão educada e prestativa merece ter serviços essenciais à sua altura.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Mark Twain e George Washington






Trago a este blog um conto de um autor que admiro muito: Mark Twain. Aqui no Brasil é pouco conhecido, embora seja autor de clássicos da literatura norte-americana como “As Aventuras de Tom Sawyer” e de contos consagrados como “O Roubo do Elefante Branco”, entre outros. É um conto pequenino, muito engraçado e sempre cheio da ironia sagaz de Twain. Apresento-o porque, ao relê-lo, me espanta que a prodigiosa inteligência do personagem de Twain que seja tão semelhante ou ainda superior a de alguns seres com quem tenho tido contato através da rede. Qualquer semelhança não é pura coincidência:




HISTÓRIA MUITO SIMPLES DE GEORGE WASHINGTON
Autor: Mark Twain.
                A VERDADE. Não posso deixar de me furtar à tentação de lhes contar que, ontem, uma dama amiga, em excursão pelas lojas, deixou seu meigo filhinho, de cinco radiantes primaveras, sob a nossa experimentada vigilância, enquanto ela prosseguia nas ocupações que a trouxeram à cidade. Um pequeno tão arguto! Era tão agradável falar-lhe! Nunca poderemos esquecer a ditosa meia hora gasta com este prodígio.
– Ora, ouça Carlos – dissemos – e aprenda a respeito de George Washington.
– Quem é ele? – inquiriu Carlos.
– Ouça – dissemos – ele foi o pai deste país.
– Que país?
– O nosso; o seu, o meu – a união confederada do povo americano, cimentada com o sangue dos homens de 1776, derramado sobre os altares de nosso país, com a libação mais grata à liberdade que seus sequazes podem oferecer!
– Quem fez? – Perguntou Carlos.
                Há um tato peculiar no falar às crianças, que muito poucas pessoas possuem. Ora, muitas pessoas ter-se-iam impacientado e irritado quando o pequeno Carlos fez tantas perguntas desconexas; nós, porém, não. Sabíamos que, por mais irrefletido que ele parecesse a princípio, conseguiríamos interessá-lo na história e seria todo olhos e ouvidos. Assim, sorrimos amavelmente – esse mesmo sorriso que tendes visto em nossas fotografias, justamente a mais fresca ondulação de um sorriso abrindo-se através da fase como um raio de Sol, e suavizado por linhas de terna tristeza, precisamente antes que as duas extremidades dele cheguem até as orelhas.
                E assim, sorrindo, continuamos:
– Ora, bem, um dia o pai de George...
– George como? – perguntou Carlos.
– George Washington. Ele era tão rapazinho justamente como você. Um dia seu pai...
– Que pai? – inquiriu Carlos, com uma encorajadora expressão de interesse.
– O de George Washington; este grande homem de quem lhe estava falando. Um dia, o pai de George Washington deu-lhe uma machadinha para...
– Quem lhe deu a machadinha?
– Seu pai. E seu pai...
– Que pai?
– O de George Washington.
– Oh!
– Sim, George Washington. E seu pai disse-lhe...
– Disse a quem?
– A George.
– Oh, sim, George.
                E continuamos com uma paciência e bom humor como é fácil de imaginar. Retomamos a história precisamente onde o menino a interrompeu, porque pudemos notar que era bastante fraco para ouvir-lhe o fim. Dissemos:
– E ele lhe disse que...
– George lhe disse? – interrompeu Carlos.
– Não, seu pai disse a George...
– Oh!
– Sim, disse-lhe que devia ter cuidado com a machadinha.
– Que machadinha?
– Ora, a de George.
– Oh!
– Sim; com a machadinha, que não cortasse com ela, ou a deixasse cair na cisterna, ou fora, na grama, durante a noite. Desse modo, George foi cortando tudo que pudesse alcançar com a machadinha. E por fim chegou a uma esplêndida macieira, a favorita de seu pai, e cortou-a, e...
– Quem a cortou?
– George.
– Oh!
– Mas seu pai chegou em casa e foi a primeira coisa que viu, e ...
– Viu a machadinha?
– Não, viu a macieira. E disse: “Quem cortou minha macieira favorita?”
– Que macieira?
– A do pai de George. E todos disseram que nada sabiam a respeito, e...
– A que respeito?
– Da macieira.
– Oh!
– E George chegou e ouviu-os falando sobre isso...
– Ouviu quem alando sobre isso?
– Ouviu seu pai e os homens.
– A respeito de que estavam falando?
– A respeito da macieira.
– Que macieira?
– A macieira favorita que George cortou.
– George o quê?
– George Washington.
– Oh!
– George chegou e disse: “Pai, eu não posso mentir. Fui...”
– Seu pai não podia?
– Ora, não, George não podia.
– Oh! George! Oh! Sim!
– Fui eu que cortei sua macieira; cortei-a...
– Seu pai cortou?
– Não, não, não; disse que cortou sua macieira.
– A macieira de George?
– Não, não, a de seu pai.
– Oh!
– Ele disse...
– Seu pai disse?
– Não, não, não, George disse: “Pai, eu não posso dizer uma mentira. Cortei-a com a minha machadinha.” E seu pai disse: “Nobre rapaz, eu preferiria perder mil árvores do que saber que disseste uma mentira.”
– George disse?
– Não, seu pai disse isso.
– Disse que preferia ter mil árvores?
– Não, não, não; disse que preferia perder mil macieiras do que...
– Ele disse que George preferia?
– Não, ele disse que preferiria do que saber que ele...
– Oh! George preferia que seu pai mentisse?
                Nós somos pacientes e nós gostamos de crianças, mas se a senhora Fitzherbert não tivesse chegado e levado o seu prodígio neste momento crítico, acreditamos que Burlington em peso nos teria tirado da embrulhada. E enquanto Carlos descia as escadas, ouvimo-lo contar a mamãe a respeito de um rapaz que tinha um pai chamado George, e ele lhe disse que cortasse uma macieira, e ele preferia dizer mil mentiras do que cortar uma macieira. Nós gostamos de crianças, mas não cremos que a natureza ou a educação nos tenha tornado aptos a ser govarnantes.
Mark Twain.

Comento:
Embora Carlos seja um garotinho, protegido pela sua candura da infância, quantos Carlos conhecemos já bem grandinhos? Alguns dos que conheço já transcenderam a mera fase de retardamento mental e infância duradoura e já beiram algo à lá “macacada indiana” ou velhotes de bingo que se julgam capazes de libertar o mundo da ignorância fanática. Melhor não entrar em detalhes. Quem não conhece um Carlos por aí?

sábado, 23 de janeiro de 2010

"Premonição 4" aposta em velha fórmula do susto

A franquia do filme "Premonição" sempre navega entre o medo constante, onde os espectadores sabem que um acidente tragicômico vai acontecer e a espectativa para ver quem vai sobreviver no final das histórias.
Nesta nova saga premonitiva, não poderia ser diferente .A morte novamente está "personificada", perseguindo os que conseguem escapar após a premonição do adolescente Nick Obannon. A maior aposta do filme é que ele foi filmado em 3D, realçando mais ainda as cenas dos acidentes macabros. Apesar de ser uma película com  um estilo batido, o detalhismo das cenas e sua versão em terceira dimensão devem salvar este Blockbuster. Obviamente, não é de se esperar um filme com um grande roteiro ou atuações impecáveis, mas vale o momento "cinema-farofa". A conferir.
Trailer:

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Patetas e a direção defensiva

Estou tirando minha CNH (carteira nacional de habilitação) atualmente e tenho tido aulas bem proveitosas. Esses dias, tive aulas de direção defensiva, que é a maneira do motorista dirigir com a máxima atenção, protegendo-se e protegendo as outras pessoas envolvidas no trânsito. Contudo, sabemos que uma boa parte dos condutores não se importa com a segurança alheia. Falemos especificamente sobre um tipo: o que se transforma ao entrar no automóvel, literalmente como na hisória "Sr. Jackyll e Mr.Hyde" (o médico e o monstro).
Este tipo de motorista julga-se invencível atrás do volante, pensando ter o direito de ameaçar os pedestres, os ciclistas e apostando corridas imaginárias no trânsito.
Este desenho bem antigo de Walt Disney com o Pateta continua extremamente atual, provando que desde sempre existem condutores irresponsáveis:





Quem nunca viu loucos assim no trânsito?

PNDH 3 é fiel à Constituição, diz Sepúlveda Pertence

Depois de José Gregori se manifestar favoravelmente ao Plano Nacional de Direitos Humanos do governo Lula, outro ex-ministro do Supremo Tribunal Federal aparece para calar a boca da direita contrária às melhorias que o Brasil precisa. É bom ressaltar que são dois juristas altamente capacitados, profundos conhecedores da nossa Carta Magna e que sem dúvidas seriam os primeiros à denunciarem o PNDH 3, caso ele fosse algo "ditatorial", como alguns setores sem caráter da imprensa nacional e a direita raivosa e ordinária afirma.




Em entrevista à Carta Maior, o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF), Sepúlveda Pertence, defende o 3° Plano Nacional de Direitos Humanos e critica a ignorância de quem não leu o plano e o "propósito, mal dissimulado, de fazer da objeção global ao plano uma bandeira da campanha eleitoral que se avizinha". Para Pertence, "o Plano é fiel à Constituição. Não apenas ao que dela já se implementou, mas principalmente, ao arrojado projeto de um Brasil futuro, que nela se delineou, e que falta muito para realizar".
Leia a matéria completa aqui.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Roupa Nova-Tema da Vitória

Dica do meu amigo Thyago:

A estúpida crença de Erich von Däniken


É mais fácil acreditar no Alf do que ser ingênuo e acreditar nos retardamentos do Daniken

O termo 'antigos astronautas' designa a idéia especulativa de que alienígenas seriam os responsáveis pelas civilizações mais antigas da Terra. O proponente mais notório dessa idéia é Erich von Däniken, autor de vários livros populares sobre o assunto. Chariots of Gods? [Eram os Deuses Astronautas?], por exemplo, é um ataque arrasador à memória e às habilidades dos povos antigos. Von Däniken afirma que os mitos, a arte, a organização social, etc. das culturas antigas teriam sido introduzidos por astronautas de outro mundo. Questiona não só a capacidade de memória, mas também a própria aptidão dos povos antigos para a cultura e a civilização. Os homens pré-históricos não teriam desenvolvido sua própria arte e tecnologia. Em lugar disso teriam sido treinados em artes e ciências por visitantes vindos do espaço.


Onde estão as provas das afirmações de Däniken? Algumas delas eram fraudulentas. Por exemplo, apresentou fotografias de peças de cerâmica que disse terem sido encontradas numa escavação arqueológica. A cerâmica ilustra discos voadores, e afirmou-se que teria sido datada de épocas Bíblicas. No entanto, investigadores de Nova (o bom programa científico da televisão pública) descobriram o oleiro que tinha feito os vasos supostamente antigos. Confrontaram von Däniken com os indícios da fraude. Sua resposta foi que essa falsificação se justificaria porque algumas pessoas só acreditariam se vissem provas ("O Caso dos Antigos Astronautas," transmitido pela primeira vez em 3 de agosto de 1978, feito em conjunto com Horizon da BBC e Peter Spry-Leverton)!


Porém, a maior parte das provas de von Däniken está na forma de argumentos enganadores e falaciosos. Seus dados consistem principalmente em sítios arqueológicos e mitos antigos. Ele começa assumindo como verdadeira a idéia dos antigos astronautas e então força todos os dados a se encaixarem nela. Por exemplo, em Nazca, no Peru, ele explica desenhos gigantescos de animais no deserto como um antigo aeroporto alienígena. O fato de que as linhas do desenho, por sua estreiteza, seriam inúteis como pista para qualquer avião é convenientemente ignorado por von Däniken. A probabilidade de que esses desenhos tivessem relação com ciência ou com a mitologia dos nativos não é considerada. Ele também recorre freqüentemente a um raciocínio de falso dilema do seguinte tipo: "Ou esses dados são explicados assumindo-se que aqueles primitivos idiotas fizeram isso sozinhos, ou precisamos aceitar a idéia mais plausível de que eles tiveram ajuda de povos extremamente avançados que devem ter vindo de outros planetas onde essas tecnologias, como a dos dispositivos anti-gravidade, tinham sido inventadas." A devoção dele a essa teoria não diminuiu, a despeito de provas em contrário, como fica evidenciado por mais outro livro sobre o assunto, Arrival of the Gods: Revealing the Alien Landing Sites at Nazca [A Chegada dos Deuses: Revelando os Locais de Pouso Alienígenas em Nazca] (1998).




Surgiram muitos críticos das idéias de von Däniken mas Ronald Story se destaca como o mais completo. A maioria dos críticos da teoria de von Däniken argumentam que os povos primitivos não eram selvagens impotentes, incompetentes e desmemoriados como ele descreve (devem ter sido pelo menos inteligentes o bastante para compreender a linguagem e os ensinamentos de seus instrutores celestiais -- nenhum café pequeno!) É verdade que ainda não sabemos como os antigos conseguiram realizar algumas de suas façanhas físicas e tecnológicas mais espantosas. Ainda nos perguntamos como os antigos egípcios levantavam obeliscos gigantes no deserto, e como homens e mulheres da idade da pedra moviam imensas pedras esculpidas e as colocavam no lugar em dolmens e covas de passagem. Ficamos impressionados com as cabeças esculpidas gigantes da Ilha de Páscoa e nos perguntamos por que foram feitas, quem as fez e por que abandonaram o lugar. Um dia talvez tenhamos as respostas às nossas perguntas, mas é mais provável que elas venham da investigação científica, não da especulação pseudocientífica. Por exemplo, a observação dos povos contemporâneos da idade da pedra em Papua, em Nova Guiné, onde ainda são encontradas grandes pedras sobre tumbas, nos ensinou como os antigos poderiam ter realizado a mesma coisa com pouco mais que cordas de material orgânico, alavancas e pás de madeira, um pouco de engenhosidade e uma boa dose de força humana.

Não temos nenhuma razão para crer que a memória de nossos antigos ancestrais fosse tão pior que a nossa, a ponto de que não pudessem se lembrar dessas visitas alienígenas bem o bastante para preservar um relato preciso delas. Há poucos indícios para dar respaldo à idéia de que mitos antigos e histórias religiosas sejam a recordação distorcida e imperfeita de antigos astronautas, registrada por antigos sacerdotes. Os indícios do contrário --de que povos pré-históricos ou 'primitivos' eram (e são) bastante inteligentes e ricos em recursos-- são contundentes.

Naturalmente, é possível que visitantes do espaço tenham mesmo pousado na Terra há alguns milhares de anos e se comunicado com nossos ancestrais. Mas parece mais provável que esses povos pré-históricos tenham sido eles mesmos responsáveis por sua própria arte, tecnologia e cultura. Por que maquinar uma explicação como essa de von Däniken? Pode ser que fazer isso acrescente mistério e romantismo à teoria de alguém, mas também a torna menos razoável, especialmente quando essa teoria parece incoerente com o que já sabemos sobre o mundo. A hipótese do antigo astronauta é desnecessária. A navalha de Occam deveria ser aplicada e a hipótese rejeitada.

Dicionário Céptico

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Egito e a população do BBB

Tanques de guerra da ignorância censuram o conhecimento

   Nós, jornalistas, temos que estudar, a bem do esforço profissional, disciplinas históricas. Por quê? Nós somos os historiadores do presente; para compreender este, faz-se mais que necessário abarcar o passado no pensamento, de modo que um não é dissociado do outro. Pois bem, sabemos da pérfida situação intelectual de nosso país: os últimos lugares de matemática, a falta de reconhecimento de boas posições de nossas universidades no ranking internacional, a não referência de intelectuais brasileiros – com raras exceções, por exemplo, no campo das lógicas com Newton da Costa, etc. – em variadas disciplinas acadêmicas, etc. À parte o malogro do estado intelectual universitário, é tanto mais desesperador quando pensamos na populaça em geral. Se os nossos intelectuais não têm grande desenvoltura – repito, à parte das exceções –, o que dizer dos não intelectuais?


     
Pois bem, em minhas leituras sobre história antiga, baseadas em referências como a Cambridge Ancient History, sempre costumo selecionar excertos que considero importantes. Decidi compartilhá-los aqui no blog, e criei um tópico na maior comunidade de jornalismo do Orkut. Em meu afã cândido, acreditei que, como um pedaço de alta cultura, meu nobre ato seria valorizado: doce ilusão. Excluíram o tópico com a justificativa de que “não havia muitas respostas nele”. Malgrado encontremos tópicos com muito menos respostas, e com assuntos que causam tanto deleite nos homens de letras, tais como BBB, Pânico na TV, relatos pessoais de conquista de empregos de locutores metidos a sabichões, o meu tópico sobre o Antigo Egito foi para o paredão. E por falar neste, tenho uma coisa muito irônica que devo-lhes relatar. Conta-se que (vide que tenho ojeriza a esse tipo de porcaria) na primeira semana do BBB, a única intelectual do programa – doutora em lingüística – foi mandada direta e deliberadamente para o paredão! O que dizer disso? Não seria tanta coincidência? Embora parecesse que tal participante – acredito que o nome dela é Helena – tenha sido uma das únicas a se indignar com a tatuagem de uma suástica no braço de um suposto fascistão (símbolo ícone da morte de 6 milhões de judeus), mesmo assim fora condenada. Mesmo que seja cômico, é evidente que esse é o clima no Brasil: são os ventos de uma tempestade anti-intelectual de tempos imemoriais, que não valoriza e despreza os estudiosos que têm.


     
Se é  que é assim, que seja. Se se preza tudo em detrimento do que sempre fora considerado alta cultura, sabemos qual é o caminho que o Brasil tomará: a estrada de uma geração de analfabetos, sem conhecimento elementar do que se estuda em outros países sérios ao redor do planeta que valorizam a educação. Talvez não se tenha mais volta: é pensarmos em aprimorar o que sabemos e adquirir o que não temos. É tarefa de se preocupar com nossa categoria intelectual, ao invés de procurar lutar em prol da cultura que deveria ter espaço para viver. Se a populaça não quer saber de história antiga, de conhecimentos gerais sólidos e que custaram tão caro o esforço mental da humanidade, que continuem com suas novelas de fundo de quintal, com suas revistas de fofocas, com uma mentalidade positivista peça de museu e com palpites infundados. Se o quer, respeito. Mas não respeitarei boicotes ou mentiras. Se um país inteiro escolhe o caminho da ignorância, que se afogue sozinho, pois eu já comprei meu salva-vidas. Não seremos nós os escritores do epitáfio de uma grande nação que escolheu o caminho da burrice?


terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Erasmo de Roterdã: Elogio da Loucura.




Erasmo de Roterdã foi um influente teólogo, filósofo e humanista do século XVI. Ele traça, em" Elogio da Loucura", um panorama crítico e satírico de sua época: um retrato engraçado, mas fiel aos costumes da época. Satiriza os teólogos, critica os abusos da Igreja, tais como a riqueza, a sede de poder, a mediocridade dos temas estudados pelos clericais e condena as indulgências que levaram Lutero a rebelar-se contra a Igreja.






(...) segundo o provébio dos gregos, o macaco é sempre macaco, mesmo vestido de púrpura. (p.27)

(...) Convidai um sábio para um banquete, e vereis que ou conservará um profundo silêncio ou interromperá os demais convidados com frívolas ou importunas perguntas. Convidai-o para um baile, e dançará com a agilidade de um camelo. Levai-o a um espetáculo, e bastará o seu aspecto para impedir que o povo se divirta. Por se ter recusado obstinadamente a abandonar sua imponente gravidade, é que o sábio Catão* foi constrangido a retirar-se. Entra o sábio em alguma palestra alegre? Logo todos se calam, como se tivessem visto o lobo. Trata-se, porém, de comprar, de vender, de concluir um contrato, em suma, de fazer uma dessas coisas que diariamente sucedem a cada um? Tomareis o sábio mais por uma estátua do que por um homem, a tal ponto se mostra ele embaraçado em cada negócio. Assim, o filósofo não é bom, nem para si, nem para o seu país, nem para os seus. Mostrando-se sempre novo no mundo, em oposição às opiniões e aos costumes da universalidade dos cidadãos, atrai o ódio de todos com sua diferença de sentimentos ou maneiras.

* Estando Catão presente aos jogos florais, não quiseram os atores iniciá-los, porque as mulheres dançavam nuas e os homens formavam grupos lascivos. Exigiram-lhe, então, que deixasse o seu ar de gravidade ou se retirasse. Catão tomou o último partido. (p.37-38)

A principal vantagem da medicina está em que, quanto mais ignorante, ousado e temerário é quem a exerce, tanto mais estimado é pelos senhores laureados. Além disso, essa profissão, da maneira por que muitos a exercem hoje em dia, se reduz a uma espécie de adulação, quase como a eloqüência. (p.53)

(...) Um grego, de cujo nome não me recordo (...) sua história é tão engraçada que eu até quero contá-la. Esse homem era louco de todas as formas: desde manhã muito cedo até tarde da noite, ficava sentado sozinho no teatro e, imaginando que assistia a uma magnífica apresentação, embora na realidade nada se representassem ria, aplaudia e divertia-se à grande. Fora dessa loucura, ele era, em tudo o mais, uma ótima pessoa: complacente e fiel com os amigos; terno, cortês, condescendente com a mulher; indulgente com os escravos, não se enfurecendo quando via quebrar-se uma garrafa. Seus parente deram-se ao incômodo de curá-lo com heléboro; mal, porém, ele voltou ao estado que impropriamente se chama de bom senso, dirigiu-lhes esta bela e sensata apóstrofe: “Meus caros amigos, que fizeram vocês? Pretendem ter-me curado e, no entanto, matam-me: para mim acabaram-se os prazeres: vocês tiraram uma ilusão que constituía toda a minha felicidade”. Tinha sobras de razão esse convalescente, e os que, por meio da arte médica, julgaram curá-lo, como de um mal, de tão feliz e agradável loucura, mostram precisar mais do que ele de uma boa dose de heléboro. (p.61-62)

Mas não esqueçamos os astrólogos, aos quais o céu serve de biblioteca e os astros servem de livros. Graças a esse estudo, compreendem muito bem e revelam o futuro, predizendo maiores prodígios do que os magos. E o mais bonito é que ainda têm a fortuna de encontrar crédulos. (p.95)

Remédio contra demagogia:Importância da modernização da FAB





Considero a decisão do governo Lula de modernizar a Força Aérea Brasileira extremamente acertada, independente da escolha entre o Rafale, o Gripen e o F-18. Temos um país de gigantescas dimensões territoriais e precisamos de uma Força Aérea com bom poder de dissuasão. 
Algumas pessoas, de maneira falaciosa, dizem que o dinheiro poderia ser aplicado em educação, saúde e na construção de moradias. Ora, são temas extremamente diferentes. De certo, este governo e os futuros podem e devem investir nestas áreas, mas isto não tira a importância de um país com uma extensão territorial tão grande ter uma Força Aérea bem equipada.
Muitos críticos destas aquisições também esquecem que estas compras serão parceladas em muitos anos, sem gerar grandes ônus para a União.



Talvez possamos até discutir se o Rafale (que ao que parece será mesmo o modelo escolhido) é a melhor opção, mas o reaparelhamento da Aeronáutica é importante para o país no século XXI. Não podemos imaginar o Brasil, por exemplo, em 2020 com os antigos caças F-5, nem apenas fazendo o patrulhamento na Amazônia com o Super-tucano. Recentemente, Hugo Chávez comprou o fantástico avião russo Sukhoi-35, um dos mais modernos do mundo. Até o Chile, um país menor que o Brasil, tem uma Força Aérea mais bem equipada que a nossa. O cenário atual na América Latina é pacífico, mas não sabemos o que pode acontecer em breve. O Brasil não pode ficar com aviões ultrapassados, da década de 60 , em pleno século XXI.
Também devemos destacar a importância das parcerias estratégicas, políticas e tecnológicas envolvendo a aquisição dos novos aviões. O Brasil vai adquirir um grande know-how de engenharia aeronáutica. Portanto, antes de algumas pessoas criticarem esta compra, deveriam ponderar melhor.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

domingo, 17 de janeiro de 2010

Reaja!Defenda-se!

Ateus contra Hipocrisia Religiosa

Vereador tem medo que o filme Avatar desconverta as pessoas

Na edição do dia 15 de janeiro do jornal de São José dos Campos "Valeparaibano", um vereador católico ultra-conservador chamado Cristovão Gonçalves afirmou que tem medo que as pessoas deixem de ser cristãs por causa do filme Avatar.
Eis minha resposta, publicada na edição de hoje:

"Em seu artigo 'Avatar', publicado na edição da última sexta-feira no valeparaibano, o vereador Cristovão Gonçalves demonstra um certo receio de que as pessoas percam a fé cristã. Ele até fala em "nossa fé cristã". "Nossa" quem? O vereador precisa se lembrar que nem todos são cristãos. Existem muitos ateus, agnósticos e pessoas de outras religiões. De qualquer modo, cada vez mais pessoas deixam o cristianismo, não por causa de ficções científicas que sempre existiram, mas porque o debate público do questionamento das alegações do cristianismo está cada vez mais presente em nossa sociedade.

Se uma pessoa tem receio que uma ficção atual tire a fé no cristianismo das pessoas, é porque ela é muito frágil e fácil de refutar mesmo."


Falar em legalização da maconha é estupidez


Me desculpem pelo título forte, mas este é um assunto que precisa ser tratado com veemência.

Algumas pessoas afirmam que legalizando a maconha acabaria o tráfico, que seria fácil de controlar a venda, que não aumentaria o consumo, etc. Vamos detonar essas afirmações :


Já existe pouca fiscalização na venda de cigarros, os quais crianças compram com facilidade.
Hipoteticamente, a maconha legalizada deveria ser taxada e vendida com impostos, tendo que ser vendida em bares ou em locais mais restritos. A maconha dos traficantes ainda seria mais barata, sem taxas e sem burocracia para comprar. Teríamos que imaginar um cenário mais ou menos parecido com o da Holanda, onde existe uma quantidade de maconha máxima a ser vendida para cada usuário.

Mesmo com a maconha legalizada os traficantes vão continuar existindo. Seja vendendo maconha mais barata e sem a burocracia do Estado, seja vendendo todas as outras drogas. Dependentes indo para o crime também sempre existirão, com maconha ou com outras drogas mais pesadas.



Se eventualmente caísse a receita deles por causa da venda legal da maconha, iriam partir para assaltos. No Rio de Janeiro, algo parecido aconteceu. Com Favelas ocupadas pelas Milícias, os traficantes viraram assaltantes.


Por isso o tráfico tem que ser combatido a qualquer custo e na minha opinião não deve legalizar mais nada e o consumo das que são permitidas hoje deve ser mais combatido ainda.

So que o Brasil não é a Holanda. Uma coisa é legalizar a maconha em um país muito pequeno,sem tantas disparidades sociais como o nosso e com uma polícia mais integrada e eficiente, para fiscalizar.

Haveria a criação de um comércio paralelo. Pessoas que comprassem a maconha em quantidades pequenas poderiam revendê-la para quem não quisesse passar pela burocracia estatal, da venda hipoteticamente tão controlada da maconha, como defendem os que querem a legalização. Com mais drogas circulando nas ruas, mais facilmente parariam nas mãos de crianças e adolescentes, exatamente como atualmente adultos compram cigarro e álcool para jovens, como podem provar que não aconteceria o mesmo com a maconha?


É ingenuidade achar que se legalizassem a maconha no Brasil, que crianças não iriam comprar maconha facilmente, pior do que já é hoje com crianças podendo comprar maconha nas favelas.
O Brasil tem é que desestimular o consumo de qualquer tipo de drogas, inclusive as lícitas, com campanhas maciças anti-fumo e colocando impostos altos nos cigarros, por exemplo.

Além de termos fumantes passivos do cigarro de tabaco, teríamos fumantes passivos de maconha.

O estado já têm problemas demais fiscalizando a venda de drogas lícitas e lidando com o tratamento dos viciados em cigarro. Maconha legalizada seria um problema a mais.

Maconha diminui os reflexos, tira a concentração e afeta a memória. Além da polícia ter que lidar com uma grande quantidade de maconha circulando, em um país como o nosso ainda teríamos que assistir acidentes automobilísticos causados por usuários desta droga, como se já não bastassem os acidentes causados por motoristas alcoolizados.


Dados interessantes:


"Mas é certo que houve um aumento no número de pessoas que se queixam de "efeitos inesperados" pelo consumo de maconha em salas de emergência nos Estados Unidos. A demanda pelo tratamento de problemas relacionados à maconha nos Estados Unidos e Europa também aumentou.
Finalmente, o risco de se tornar dependente da maconha, é maior do que a maioria dos usuários causal suspeita. Cerca de 9% dos que experimentam maconha são incapazes de parar de usá-la. Mesmo quando consumida apenas uma vez, a maconha pode produzir ataques de pânico, paranóia, sintomas psicóticos e outros sérios efeitos negativos. A droga pode também precipitar a psicose em pessoas propícias a tal mal, e agravar sintomas em esquizofrênicos."


Fonte:
ONU


Quem diz que na Holanda o consumo de maconha diminuiu está mentindo.


"A quantidade de jovens holandeses menores de 18 anos viciados em maconha está aumentando. Muitos deles começam a fumar aos treze anos de idade.
O problema é tão sério que muitos vão parar em clínicas de reabilitação. Os jovens fumantes têm conflitos com os país, abandonam os estudos e muitos são conhecidos pela polícia por roubarem para sustentar o vício."

Dados:

"Não há como trilhar o caminho da legalização controlada nesse momento no Brasil, pois isso não pode ser feito por um único país, isoladamente, implicaria numa concertação internacional para uma nova abordagem do tema. Ainda não há condições políticas para a tanto, porque a maioria da opinião publica internacional e nacional é contrária por uma ampla margem, nesse momento por razões equivocadas mas respeitáveis. É preciso, no entanto, abrir esse debate sem tabu e sem medo. Embora possa ser politicamente prejudicial é preciso ter a coragem de dizer a verdade."

Alfredo Sirkis, do Partido Verde, um dos maiores defensores históricos da descriminalização da maconha.




Para Gabeira, seria impossível ter um controle eficiente do uso de drogas no Rio, com as dificuldades estruturais da polícia, que seria responsável por esse papel no caso de uma eventual liberação.


“Só com uma polícia muito avançada se pode legalizar [a maconha]. [A liberação]Não é ‘liberou geral’, é controle mais sofisticado. O coffee shop na Holanda [onde é permitido o consumo de maconha] é televisionado, controlam mais. Do ponto de vista filosófico, o Estado precisa estar preparado para as conseqüências.”


Fonte