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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A Utopia Liber

Partido "LIBER": Tão enrolados quanto os integralistas.

O que é o “Liber”? Trata-se de um grupo de liberais que quer sua utopia ultraliberal na política brasileira através do partido que criaram. Que é que defende tal partido? Em primeiro lugar, na defesa das “liberdades”, colocam o mercado à frente de todos valores humanos: de todo valor moral. Como se o mercado fosse o produtor dos valores, e não a cultura, significando aqui em amplo sentido as instituições, as religiões, os costumes, etc. É, em verdade, um projeto que inverte a própria realidade histórica do é causa eficiente mercado. Mais especificamente: O Líber, enquanto partido, quer: um mercado desenfreado, a liberalização das drogas, entre outras propostas estapafúrdias.

Permito-me o uso do termo “Utopia” porque o próprio Juliano Torres, um dos criadores do postulante a partido "Líber", assume que é o que defende na entrevista ao Estadão:
              
                Da própria definição de “Utopia”, segue-se é um projeto irrealizável no real: está no campo do ideal, portanto qualquer tentativa de colocá-lo em prática cessa no meio do caminho. Na medida em que alguém luta por um ideal impossível, é porque abandonou todo resquício de sanidade. Malgrado se alegue que se lute por mais liberdade, quem é que arriscaria que, caso o Líber chegue ao poder, se empregue os mesmos projetos de engenharia social que os regimes totalitários do passado empregaram no campo econômico (o projeto impossível de uma economia planificada), mas valendo-se do objetivo “libertário” em prol do mercado desenfreado? É perigoso desarmar o Estado para qualquer intervenção na economia: perigoso por que qual foi a participação do Estado na economia americana em 1929? Mínima, e tivemos o que é considerado o maior desastre monetário até o dia presente. Embora os economistas divirjam em relação às causas desta crise (duas delas, sem dúvida, foram o isolamento das nações e a alta taxa de câmbio após a Grande Guerra), sabe-se que, sem o New Deal do governo Roosevelt – que também implementara políticas de welfare –, é muito, muito improvável que, sem a intervenção estatal, o mercado pudesse voltar a seu rumo anterior. Isso serve de alerta: os economistas conhecem todas as causas possíveis de crises econômicas? Se não, qual é a garantia de que, com Estado mínimo, poderíamos não depender de qualquer atuação forte de um banco central para investimentos em épocas de desgaste? Se sim, qual é a garantia de que poderiam evitá-las? Pode-se evitar os velhos – ou novos – erros do Estado interventor, mas qual é a garantia de que não haverá necessidade de um Estado para intervir nos momentos de crises do mercado? A não ser que se seja mais utópico do que nosso amigo Juliano Torres ao se propor que não haveria possibilidades de crises graves na economia mundial mesmo sem intervenção estatal.



                Na entrevista ao Estadão, o Liber e seus representantes estão certos em ser contra políticas econômicas inflacionárias, que é a multiplicação de moeda (uma herança keynesiana). Estão certos de ressaltar que o Estado americano, na medida em que ofereceu crédito desenfreado a maus pagadores, teve de intervir para corrigir o erro. Mas estão certos de que o Brasil tem condição para uma concorrência desenfreada, donde com o salário mínimo abolido, a maioria da população conseguiria se manter com rendas muito mais baixas? Saindo do campo da economia, estão certos em defender a liberalização de todas as drogas, mesmo ao saberem (se é que o sabem) das pesquisas de que, caso se alegue que isso reduziria o tráfico, o mesmo aumentou na Holanda, por exemplo? Ou que, com tais drogas liberadas, o número de viciados aumentaria de modo desenfreado, o que exigiria mais de nossos hospitais (mais gasto para o Estado), ou querem privatizar os hospitais públicos? Parece o seguinte: o Liber quer criar um mercado de viciados, de modo que, quanto mais, mais lucro haveria para as clínicas privadas, não é mesmo? Que espécie de ética tem o Liber? Colocar a economia em primeiro lugar em detrimento dos valores humanos é rebaixar a moral, inerente a cada ser humano; é denegrir a própria segurança, vide que não há nenhuma garantia de que não nos depararíamos com viciados drogados no trânsito pronto a causarem desastres. Todos os valores morais que a sociedade ocidental construiu, o Líber coloca em evidência: querem o “vale-tudo”, quando há razão de sobra para concluir que tal projeto levaria a sociedade ao caos.


                Sobre a liberdade de voto, nada contra. Do alistamento militar, também nada vejo. Mas das drogas? Já que defendem a liberdade, inclusive a de impostos, digo: não darei UM TOSTÃO de impostos para a recuperação de viciados. Não sou obrigado a viver entre DOPADOS, vagabundos que, de um modo ou de outro, financiaram o tráfico de drogas. Se prezam as drogas, tem de prezar nossa postura: a sociedade brasileira, na maioria, diz NÃO. O Liber pode ser libertário na moral, mas a sociedade ainda é conservadora. Não deixaremos, seja no campo político, jornalístico ou em qualquer área, que um partido de utópicos transformem nosso país em um caos de drogados masoquistas.
Como nossos amigos do Liber iriam lidar com o fato de que a maconha, a cocaína e o crack são grandes agentes causadores de acidentes de trânsito (Ver artigo "Drogas ilícitas e trânsito: problema pouco discutido no Brasil")?
 Dizemos NÃO a grande parte da política econômica do Líber, e NÃO à sua moral anarquista sem escrúpulos. Se a direita quer participação na política, que seja uma direita com responsabilidade, que esteja cônscia dos limites da realidade e não do ideal inalcançável. O Líber é, sem dúvida, uma vergonha à direita brasileira. Uma direita fraca, sem idoneidade moral e sonhadora. Em comparação com os socialistas utópicos, nada perdem, a não ser na ingenuidade: enquanto muitos daqueles já aprenderam a fugir dos mesmos erros com mais de um século de realpolitik, estes liberais incidem nos mesmos erros. É assim, direita, que vocês querem o poder?
                

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