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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Vuvuzela: Como "idiotizar" a torcida


Torcidas Brasileiras 10 x torcidas vuvuzelentas 0

A menos que você tenha chegado à 2010 agora em uma máquina do tempo, certamente você já ouviu a vuvuzela, também conhecida como "cornetinha do diabo"  ou "trombeta dos inconvenientes". Segundo a Wikipédia, sua história é esta:

A vuvuzela tornou-se popular na África do Sul na década de 1990. Em 2001, a empresa sul-africana Masincedane Sport começou a produzir em massa uma versão de plástico. Requerem um sopro forte, de modo a emitir um ruído semelhante ao de uma sirene ou ao de um elefante. A utilização da vuvuzela é característica dos jogos entre grandes equipes de futebol sul-africano como o Kaizer Chiefs e o Orlando Pirates. As vuvuzelas da torcida dos Chiefs são amarelas e vermelhas, enquanto as da torcida dos Pirates são magenta cor de tijolo.

Com as torcidas ficam tocando esse instrumento do capeta durante todo o jogo, mataram os cantos das torcida na Copa do Mundo. A vuvuzela é o barulho antidemocrático e ditatorial. É sempre interessante ouvir os cânticos de torcidas como Inglaterra, Alemanha, Brasil, Argentina, Holanda e tantos outros, com sotaques variados e interessantes. Com as vuvuzelas, ouvimos apenas um zumbido burro, irritante, estéril e  anti-cultural. Por mais que faça parte da cultura dos sul-africanos, os torcedores dos países que lá estão na Copa não precisavam ter caído no modismo.Também é desagradável ouvir em todos os jogos o mesmo som, sem nenhuma variação para nossos ouvidos. Melhor seria se a Fifa proibisse-a, como foi cogitado. Falar que se faz parte da cultura e então é bom é uma falácia. Ora, se fizesse parte da cultura do país A brigar tacar uma garrafa na cabeça do adversário, então isso deveria ser automaticamente aceito? Por certo que não. 
Quando as torcidas  demonstram seu entusiamos através das músicas, há a democracia no estádio. Todos são ouvidos, todos se fazem ouvir e há espaço para  o torcedor de cada país se manifestar de sua forma particular, sendo ouvido pelos bilhões de espectadores que assistem a Copa pela TV.




Os jogadores em campo reclamam que mal ouvem as instruções também, assim como mal se ouvem durante a partida. Se interfere no andamento da partida, é prejudicial para o esporte. Falta pulso da organizadora do evento, da Fifa. Se os sul-africanos com toda a sua simpatia querem ficar tocando esta maldita corneta em seus campeonatos nacionais, que toquem. Só não imponham isso ao resto do mundo.Até a turma que vai assistir aos jogos aqui no Brasil está comprando vuvuzelas.
Fica uma sugestão: Cante, grite, use sua voz, o melhor e mais sofisticado instrumento musical que já apareceu no planeta Terra.
Ignore as vuvuzelas e não incomode os outros com este zumbido do mal.




Raramente nesta Copa poderemos ouvir o "Ole Deutchland" ou o "Vamos vamos Argentina".
Seja sincero, o que você prefere ouvir?

Isto:










Ou isto?



Não quero ser ufanista, mas um exemplo de como a torcida brasileira é muito mais criativa que qualquer torcida que toca lavagemcerebralzela. Na Copa de 1950, no Brasil, enquanto a seleção goleava a espanha, nossa torcida cantava isto aqui:














Revista Placar de 1977






       Ao longo dos anos, as torcidas, no maracanã, cantaram singelas marchinhas, paródias cheias de picardia, palavrões repletos de desabafo. Mas os torcedores nunca esqueceram aquela tarde em que 200 mil vozes cantaram “As Touradas de Madri” no jogo Brasil e Espanha pelo campeonato mundial de 1950.

João de Barros, o Braguinha, compositor famoso, comenta aquela tarde de 13 de julho de 1950,
- No maracanã inteiro cantando Touradas de Madri, só uma pessoa não conseguia cantar: eu. Quando o povo se levantou no estádio em festa, a única coisa que eu consegui fazer foi chorar. Nunca esperei que Touradas de Madri, a marchinha que fiz com meu amigo Alberto Ribeiro pudesse um dia ser cantada por 200 mil pessoas de uma só vez. Por isso não cantei. Apenas chorei. Foram lágrimas doces, suaves.

Naquela tarde o coro brotou espontâneo da multidão que balançava de mãos unidas no anel da arquibancada, da geral, das cadeiras, como se fosse um único ser. Nunca mais o maracanã deixaria de ser palco da cantoria de marchas, sambas, paródias, palavrões ritmados que, longe de ofender, transformaram o futebol carioca numa festa inigualável das torcidas.

Uma festa que começou ali, às vésperas da tragédia de 16 de julho, naquela quinta feira em que, entre as quatro linhas do maracanã ainda não concluído, com os sinais das obras recentes visíveis por toda parte, a seleção brasileira destroçou a seleção espanhola com um goleada de 6x1, que nem o mais otimista dos torcedores ousaria prever. Duas horas antes do início da partida, marcada para as 3 horas da tarde, o maracanã parecia não caber mais ninguém. Quando se anunciou que não havia mais ingressos a venda nas bilheterias, a massa humana começou a se jogar sobre os frágeis muros de tijolos da construção inacabada, e por seus destroços passou às carreiras rumo à geral, último território onde o menor espaço seria disputado palmo a palmo. Acomodada sobre a ponta dos pés, ondulando e desequilibrando-se com os vaivens da bola de um gol a outro por falta de espaço para plantar os pés com firmeza, a multidão não se perturbava com nada. O aperto, os empurrões, os gritos dos que, perdendo o pé de apoio, caíam no fosso entre a geral e as cadeiras.
Toda essa excitação e essa inquietação germinaram o coro que em pouco explodiria como uma só voz. Não eram apenas os gols, dois de Ademir, dois de Chico, um de Jair e outro de Zizinho, diante dos espanhóis tão exaltados pela crônica, a seleção brasileira produzia a mais fina exibição de futebol que o maracanã já testemunhou em qualquer tempo. Barbosa. Augusto e Juvenal. Bauer. Danilo e Bigode. Maneca. Zizinho. Ademir. Jair e Chico não era apenas um time de futebol, e sim uma orquestra com o luxo de reunir quatro primeiros violinos: Bauer. Danilo. Zizinho e Jair.
Marcamos seis gols em cima do goleiro Ramalhets, a maravilha espanhola.

O coro surgiu e cresceu e dominou todas as bocas não se sabe como. De repente, o mar de lenços brancos levantou-se mavioso, denso, forte, o coral gigantesco –
- Eu fui às touradas em Madri
Parara tibum, bumbum
E quase não volto mais aqui-i-i
Pra ver Peri-i-i
Beijar Ceci
Parara tibum, bum bum.....

O torcedor testemunhou, naquela tarde, o nascimento de um novo movimento no futebol brasileiro. A era do futebol cantado, que surgia no maracanã e depois atingiu quase todos os estádios do Brasil. Ao contrário dos antidos campos do Rio, o maracanã deu às torcidas um sentido de unidade antes impossível. 

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