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terça-feira, 24 de agosto de 2010

Dilma não foi ao debate na Canção Nova. O que ela perdeu? Nada.



Ontem, no canal católico Canção Nova, estiveram presentes os candidatos José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda (PSOL).
Dilma não perdeu nada, em um debate enviesado onde se falaram vários absurdos. Logo na primeira pergunta, foi inquirido se é importante para um presidente acreditar em Deus. Esta pergunta por si só é um desrespeito à todos os ateus e agnósticos. Nas entrelinhas, perpetua todo o preconceito já existente: o de que cristãos são melhores e mais morais que ateus, que quem não acredita na existência de Deus não pode ocupar um cargo público etc.

Eis o que Serra e Marina falaram:


22h18 – “Eu acho bom que o presidente da República acredite em Deus”, diz Serra ao responder a primeira pergunta do debate, sobre a necessidade, ou não, da crença em Deus pelo presidente brasileiro. “Eu acredito que a religião e a crença em Deus nos aproxima nos valores”, diz o tucano. “Eu vejo a vida publica assim. Eu estou na vida publica não pra curtir as benesses do poder, mas para cuidar das pessoas.



22h23 – “Eu sempre digo que é fundamental que as pessoas compareçam a todos os debates”, diz Marina. Para ela, “do ponto de vista do Estado laico não (é importante acreidar em Deus)”. Mas ela ressalva que para um governante é altamente valoroso acreditar em um ser superior. “É um delta a mais”, diz. E completa: “Deus é generoso até com quem não acredita nele”.



Para os dois candidatos, um presidente cristão é melhor que um presidente ateu. Para eles, deve ser mais moral também. Isto é absurdo, mentiroso e falacioso. O importante é que o presidente cumpra as regras, ajude a população e respeite as leis do país. Acreditar em Deus, ao contrário do que disse a evangélica Marina, não é um delta a mais ou a menos. É irrelevante para o exercício do cargo. Crença em Deus também não necessariamente aproxima de valores, basta ver os inúmeros pastores que acreditam em Deus e exploram as pessoas humildes, os bandidos que acreditam em uma divindade e mesmo assim cometem crimes e as pessoas cristãs comuns, que acreditam e mesmo assim possuem seus erros. A crença no "divino" não garante que uma pessoa seja melhor ou pior.



Ao falar sobre o combate à Aids, Serra não comentou nada sobre a distribuição de camisinhas, que é tão importante e ele sabe disto. Isso é o mais estranho: Não falar NADA sobre camisinha, quando o tema é combate à aids. Seja por demagogia ou hipocrisia diante daquele público, ele até defendeu que o governo pregue a castidade e a monogamia. Só faltou dizer que em seu governo o sexo vai ser incentivado apenas no casamento:


22h53 – “É fundamental que tenhamos campanhas de transmissão”, diz Marina ao comentar a resposta de Serra. “Essa é uma opção que as pessoas podem fazer, e que a fé as famílias podem orientar”, continua. “A minha posição vai ser sempre à favor da vida.” Na sua tréplica, Serra volta ao programa anti-Aids criado durante sua passagem pelo Ministério da Saúde. Marina encerra sua posição sobre o assunto.
22h53 – Perguntado sobre se concorda com a castidade como meio de controlar as DSTs, Serra lembra seu trabalho de prevenção no Ministério da Saúde para controlar as DSTs e a Aids. Serra diz que vai continuar trabalhando contra o sexo precoce e pelo monoganismo.



Será que Serra estava com medo de perder alguns votinhos de católicos retrógrados e medievais? Ou estava com medo de levar uma vaia dos bispos?

Apesar de tudo, registre-se a coragem e a honestidade de Plínio de Arruda Sampaio, quando ele declarou que condena o preconceito contra os homossexuais e que apesar de ter a fé cristã, jamais poderia deixar que esta fosse imposta às decisões do estado. Aliás, havia sido feita uma pergunta maliciosa, quando o jornalista praticamente pediu para que os candidatos condenassem a lei que vai criminalizar a homofobia. Ele também foi bem ao falar que é contra a ostentação de símbolos religiosos em repartições públicas. "A igreja não deve insistir em colocar símbolos religiosos em lugares públicos porque eles são de todos", afirmou.

Trecho interessante:


22h49 – Na réplica, Marina continua sua resposta. “Quem é que protege a vida que está ali?”, questiona a candidata em reação às asserções de Plínio, que citou as mortes de mulheres que interrompem a gravidez de forma ilegal. Marina diz que o que está em debate é a vida das “100 mil mulheres” e também a vida que são ceifadas com essas 100 mil mulheres”. “Acho que o debate deve fazer o debate, com transparência, e eu jamais vou deixar de colocar o meu ponto de vista.”
22h47 – Plínio opta por ler sua posição sobre o aborto. Ele diz ser pessoalmente contra o aborto, mas argumenta que o aborto é uma questão de saúde público.
22h46 – Marina é perguntada sobre o aborto. “Sou contra o aborto. O problema é que essa é uma questão filosófica, moral e também política. Precisamos debater o assunto. O Congresso pode decidir o assunto sem debater com a sociedade. É por isso que eu defendo o debate, para que aqueles que como eu tem uma posição contrária e aqueles que tem uma opinião a favor.”
22h45 - Serra fecha o bloco da pergunta: “Que uma religião não aceite a pratica do homossexualismo é uma coisa. Outra é a questão social, a pratica da violência.”
22h41 - “Eu acredito que a questão da preferência sexual não pode ser objeto de discriminação”, diz Serra, que concorda com Plínio quanto a liberdade dos religiosos em pregarem contra o homossexualismo.
22h43 – Réplica de Plínio: “o princípio de que não se deve humilhar uma pessoa por causa de sua opção sexual. Nenhum de vocês duvida da minha fé. Tenho 60 anos de militância. Se houver uma restrição para que qualquer religião critique (o homossexualismo), sou contra”, afirma o candidato socialista”
22h40 – Jornalista Rafael Leal, da Canção Nova, pergunta para Plínio sobre projeto de lei que pretende criminalizar a homofobia. “Já me manifestei favoravelmente. Sou contra toda e qualquer forma de discriminação. Eu não aceito que nós cristão não possamos dizer que isto é um erro. Agora, a pessoa não pode ser humilhada por causa das suas opções”, responde Plínio.


O jornal "Estado de São Paulo" publicou o resumo do debate aqui.

No mais, este debate foi realizado com um propósito: Demonstrar que não importa quem vencer a eleição, a Canção Nova e a Igreja Católica vão querer continuar dando palpites nas decisões do estado laico.

2 comentários:

Carlos Motta disse...

Parabéns pelo artigo. O Brasil é um Estado laico, portanto os candidatos à Presidência têm de ter a obrigação de preservar os princípios constitucionais. Crer ou não em algum deus não tem a menor relevância para o exercício do cargo público, seja qual for. A eleição é para escolher o presidente da República, não para uma função religiosa qualquer. E essas emissoras são concessões do Estado e não deveriam estar a serviço de uma religião - o que, obviamente, discrimina as outras tantas que existem por aí.
Um abraço.

Rafael do Valle disse...

Não assisti ao debate da Canção Nova, e sinceramente, fiz muito bem em não assistir. Um show de parcialidade para agradar os católicos. Uma vergonha para um estado que só vai progredir quando entender de uma vez por todas que é LAICO, e ponto. Fico feliz pela ausência da Dilma, ela realmente não perdeu nada.