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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O manifesto neoudenista

Tijolaço

Alguns artistas e intelectuais estão lançando, com grande apoio da mídia, um manifesto “em defesa da democracia”. Muito bem, todos somos e eu trago na vida familiar a herança da sombra ditatorial.

Mas a pergunta que me ocorre é: como é que a democracia está “assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade”.

Como é este autoritarismo hipócrita? As instituições funcionam livremente ou não? O Ministério Público não está impondo, até com muito mais severidade que ao outro contendor, sanções à candidata do Governo e ao próprio Presidente da República? Os ministros do TSE que ora rejeitam, ora confirmam estas sanções estão pressionados para qual dos dois atos?

A Polícia Federal está limitada partidariamente em sua ação? Não acaba de agir com total liberdade contra aliados do Governo?

Gostaria que os senhores respondessem a esta pergunta com um simples sim ou não.

Ou democracia seria pré-condenar qualquer pessoa acusada, sem o devido processo legal, sem julgamento regular e justo, sem direito de defesa?

Dizem eles que “é um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo”. Quero testemunhar, como membro do Legislativo, que nunca recebi uma ameaça, uma pressão ilegítima, um ultimato para votar em qualquer questão do interesse do Governo. Algumas vezes, aliás, caminhei em sentido contrário, e posso citar, por exemplo, a questão do reajuste dos aposentados e do fator previdenciário, onde nossa pressão – e inclusive, registro, de alguns petistas, como o Senador Paim – se voltou justamente contra o Governo, em defesa das causas que apoiamos.

Mas o que mais estranhei foi que o tal texto dissesse que “é aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses”.

Como assim?

Teriam os senhores signatários a fineza de dizer que mecanismos são estes? Seriam, por acaso, as determinações constitucionais de que as concessões de rádio e televisão sirvam à educação e à informação correta da população? E que grupos estão sendo financiados e como? Os senhores fariam a fineza de informar ou vão ficar na “denúncia anônima” que fez a excelentíssima Dra. Sandra Cureau inquirir a Carta Capital, de Mino Carta, sobre quais foram os anúncios que recebeu, quando os grandes jornais e revistas, evidentemente de oposição ao Governo, publicam também anúncios insitucionais e comerciais de empresas estatais?

Mas a direita manifesteira, que não faz manifesto contra a fome, contra a pobreza, contra o aniquilamento cultural da população submetica a uma mídia baixa e deseducadora, que estimula o individualismo e a “notoriedade a qualquer preço”, no final do texto entrega sua devoção:
“É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, com o fim da inflação, a democratização do crédito, a expansão da telefonia e outras transformações que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.”

Ah, sim, agora eu entendi.

O manifesto não é em defesa da democracia. É um manifesto em defesa do neoliberalismo, em defesa de Fernando Henrique Cardoso.

Não tenho nada contra.

Mas eu me lembro de uma frase de meu avô: as palavras devem ser usadas para expressar os pensamentos, não para os esconder.

Quando se esconde algo, boa coisa não é.

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