Pesquisar este blog

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Estufas urbanas: o futuro da horta pode estar na metrópole



As sementes de uma revolução agrícola estão criando raízes em várias cidades ao redor do mundo — um movimento que, segundo seus adeptos, mudará a maneira como a população urbana recebe as verduras que consome e, ao mesmo tempo, resolverá alguns dos maiores problemas ambientais do mundo. Segundo artigo publicado no site do The Wall Street Journal, a solução se chama agricultura vertical, e se baseia em um princípio simples: em vez de trazer os alimentos de caminhão da zona rural para as cidades, é melhor cultivá-los o mais perto possível do local de consumo: em estufas urbanas que se projetam para cima, e não na horizontal.

A ideia está florescendo de muitas formas, como mostra a reportagem. Há um prédio triangular de 12 andares sendo construído na Suécia, onde as plantas serão transportadas em trilhos desde o andar superior até o inferior para aproveitar a luz solar e facilitar a colheita. Há também um antigo frigorífico em Chicago, onde os legumes são cultivados em balsas flutuantes, alimentados por resíduos de tanques de peixes nas proximidades. E ainda diversas propriedades rurais espalhadas por todos os Estados Unidos onde as plantas ficam suspensas no ar e as raízes são borrifadas com nutrientes, dispensando o uso de terra e tanques de água.

Mas qualquer que seja a maneira de implementar a agricultura vertical, seus defensores dizem que os benefícios imediatos serão fáceis de ver. Não haverá tantos caminhões de entrega nas estradas, consumindo combustível de forma desenfreada e soltando fumaça, poluido o ar, e os moradores da cidade terão acesso mais fácil a alimentos frescos e saudáveis.

De olho no futuro, os defensores da agricultura vertical dizem que ela pode trazer mudanças ainda maiores e mais abrangentes. Plantar em locais cobertos pode reduzir o uso de pesticidas e herbicidas que escorre das plantações e contaminam a água. Preservar ou recuperar mais ecossistemas naturais, tais como florestas, pode ajudar a diminuir as mudanças climáticas. E quanto mais comida produzirmos em locais cobertos, menos suscetíveis estaremos às crises ambientais que prejudicam as safras e jogam os preços dos produtos lá na estratosfera.

Dickson Despommier, professor de microbiologia da Universidade de Columbia que desenvolveu a ideia da agricultura vertical em 1999, juntamente com seus alunos, acha que o sistema vai se tornar cada vez mais atraente à medida que as a mudanças climáticas aumentam o custo da agricultura convencional e os avanços tecnológicos barateiam a agricultura em estufa. De fato, ele espera que dentro de 50 anos o mundo consiga produzir metade da sua alimentação em fazendas verticais.

“Quando isso acontecer, uma parcela significativa das terras agrícolas poderia ser abandonada. As funções do ecossistema melhorariam rapidamente, e o ritmo do aquecimento global vai diminuir”, diz ele.

Uma série de fazendas verticais já está funcionando nos EUA e em outros países, e outras estão em construção. Algumas têm o apoio de organizações sem fins lucrativos, destinadas a promover causas ambientais ou criar empregos locais. Outros são empreendimentos com fins lucrativos, que visam atender a demanda por verduras produzidas localmente. E outras, como na Coreia do Sul, estão sendo financiadas por governos que buscam maneiras de aumentar a segurança alimentar interna.

Até agora, as fazendas verticais produzem apenas uma quantidade pequena de alimentos. Seus idealizadores ainda estão desenvolvendo diversos projetos arquitetônicos e técnicas de cultivo para aumentar a eficiência do sistema. E um modelo de negócio comprovado com base no novo conceito ainda está para surgir.

Um projeto ambicioso em construção está tentando resolver todos esses desafios de uma só vez. A fazenda triangular de Linköping, na Suécia, será uma das mais altas do mundo — a maioria só tem alguns andares — e vai usar maneiras inovadoras de gerar receitas. A Plantagon, empresa sueca que é dona da fazenda, não só vai vender as verduras na feira da cidade, como também alugar espaço para escritórios na maioria dos andares.

Outra característica especial do projeto é que, do lado de fora das janelas dos escritórios, na face sul do edifício, há um trilho mecânico envolto em um túnel de vidro que vai levar as plantas em crescimento desde o alto do edifício até o andar térreo. O objetivo é dar às plantas uma exposição homogênea à luz solar e permitir à Plantagon realizar todo o plantio e a colheita em um só lugar — no térreo do prédio. Após o plantio, um elevador vertical normal leva as caixas de plantas até o último andar, onde elas começam sua viagem para baixo. A empresa planeja produzir 300 a 500 toneladas anuais de verduras, como acelga chinesa.

Quanto ao preço, é muito mais caro, naturalmente, construir uma estufa vertical do que uma estufa normal, admite Hans Hassle, diretor-presidente da Plantagon. Mas as fontes de receitas previstas vão ajudar a cobrir as despesas, e o custo da energia será menor, já que as instalações vão usar resíduos de várias fontes, tais como o calor de uma usina elétrica próxima e o biogás produzido pela conversão do lixo orgânico do próprio edifício. Ao todo, as medidas planejadas de economia energética reduzirão o consumo de energia do edifício em pelo menos 30% a 50%, acrescenta Hassle.

Segundo ele, o próximo projeto de estufa da empresa será um modelo de demonstração em Xangai, na China, ou um centro de pesquisas em Cingapura. São locais bons para testar a ideia, diz ele, pois são sociedades altamente densas e urbanizadas que já precisam produzir mais alimentos localmente.

Em Chicago, verduras são cultivadas em pequenas jangadas

Nos EUA, as fazendas verticais estão surgindo em áreas urbanas de todo o país, algumas em velhos edifícios agora destinados à agricultura. Um empreendimento chamado The Plant está produzindo hortaliças em um antigo frigorífico de três andares em Chicago. A fazenda cultiva as verduras em pequenas jangadas flutuando na água, a qual é cheia de nutrientes vindos de resíduos produzidos pelos peixes em um tanque separado — uma configuração chamada aquaponia. A luz vem de lâmpadas concebidas para emitir a extensão de onda adequada para o crescimento das plantas. A The Plant também está projetando um sistema em que as culturas poderiam crescer em placas verticais, com os nutrientes chegando às raízes das plantas por meio da água que escorre em lâmina desde tubos próximos ao teto.

A The Plant foi fundada por John Edel, de 43 anos, natural de Chicago, que já empreendeu outros projetos para renovar e reutilizar edificações urbanas. A fazenda atualmente aluga parte do seu espaço para inquilinos, incluindo três agricultores e duas padarias, e tem planos de encontrar outros; pretende também abrir um mercado comum para o varejo, onde os moradores possam vender seus produtos.

Outras fazendas nos Estados Unidos usam diferentes técnicas para economizar espaço, reduzir o consumo de água e até mesmo evitar a necessidade de usar terra. Fazendas em armazéns e outros edifícios em Seattle, Chicago, e no interior dos Estados de Nova York e Nova Jersey, entre outros lugares, usam um sistema de aeroponia da AeroFarms, firma de Ithaca, no Estado de Nova York. O método consiste em cultivar plantas com as raízes suspensas no ar, onde podem ser pulverizadas com água e nutrientes.

A Omega Garden Inc., firma canadense de Qualicum Beach, na província de Colúmbia Britânica, vende um dispositivo para plantio chamado Volksgarden, um cilindro rotativo de 1,2 metro de diâmetro e 60 centímetros de largura. As plantas crescem em um círculo no interior do cilindro. À medida que o dispositivo gira, as raízes mergulham em uma bandeja com uma solução líquida que fornece água e nutrientes. Uma luz percorre o cilindro horizontalmente para nutrir as plantas.

A Green Spirit Farms LLC está usando o sistema em New Buffalo, no Estado de Michigan, em uma antiga fábrica de injeção de plásticos. A fazenda quer preencher o espaço com unidades da Volksgarden empilhadas em três níveis de altura, diz o gerente local da Green Spirit, Ben Wiggins.

Ainda assim, muitos especialistas em agricultura não estão convencidos pela ideia de agricultura vertical. O principal argumento contrário é que as fazendas convencionais são os lugares mais simples e mais eficientes para produzir alimentos. Cultivar alimentos em lugares cobertos, utilizando luz artificial e outros equipamentos especiais implica mais esforço e mais despesas — anulando os benefícios de estar perto dos consumidores, dizem os críticos.

É por isso que George Monbiot, escritor e ativista ambiental de Oxford, na Inglaterra, diz que “não há perspectivas” de que as técnicas mais complicadas de plantação vertical possam contribuir muito para a produção mundial de alimentos. Quanto aos sistemas de agricultura vertical que consomem energia extra para luzes artificiais e outros equipamentos, ele diz:

“Mesmo que você utilize energia de fontes renováveis, há melhores maneiras de usar essa energia renovável”.

Da mesma forma, R. Ford Denison, professor adjunto de ecologia agrícola na Universidade de Minnesota, acha que o uso de energia das fazendas verticais anularia qualquer economia feita no combustível para transporte.

“O transporte dos alimentos desde o campo até as lojas representa uma pequena fração do consumo total de energia pela agricultura”, diz ele.

Os defensores dizem que a comparação entre a agricultura convencional e a vertical não é justa, já que o governo subsidia fortemente as despesas para a agricultura tradicional, incluindo o seguro agrícola, reduzindo em muito os custos envolvidos e os riscos que os agricultores incorrem devido a condições meteorológicas imprevisíveis.

Mas esses defensores dizem que a equação muito provavelmente vai mudar, pois o clima desfavorável torna a agricultura em lugar fechado uma alternativa mais segura.

Despommier, que também é consultor da Plantagon, reconhece que o uso da energia, em especial para iluminação artificial, continua a ser um desafio para algumas fazendas verticais. Mas diz também que tem havido progressos na redução do consumo de energia ligado às luzes especiais para o cultivo, e os pesquisadores continuam a trabalhar no problema. De modo mais amplo, ele argumenta que a ideia da agricultura vertical em grande escala parecerá cada vez mais realista à medida que as técnicas evoluírem.

Nenhum comentário: