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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Será economicamente viável a produção de carne no futuro?

A prática do confinamento intensivo de animais começou há apenas 40 anos, mas não deve durar outros 40 do jeito que está hoje.

Não só por causa dos maus tratos a que estamos submetendo nossos animais, mas também porque a lógica por trás da prática se baseia em conceitos que não serão mais aceitos no futuro.

Para saber por quanto tempo o confinamento vai continuar e o que será feito depois para alimentar a população mundial, o site Io9 conversou com alguns especialistas:

Por que o confinamento intensivo de animais está condenado?

O confinamento se baseia na disponibilidade de milho barato. Antes de 1973/74, os porcos e frangos não comiam milho, de acordo com Evan D. G. Fraser, professor de geografia da Universidade de Guelph e coautor de “Empires of Food: Feast, Famine and the Rise and Fall of Civilizations” (Impérios de Comida: Banquetes, Fome e a Ascenção e Queda de Civilizações, em tradução livre).

O milho começou a ser usado na alimentação dos animais com a lei de agricultura dos EUA, que começou a ser posta em prática nos anos 70. Ela subsidiava os produtores de milho, mas fez isso a tal ponto que eles tinham mais milho do que podiam vender.

E para que o milho continuasse barato, era preciso ter água, muita água. Atualmente, os pecuaristas americanos estão sofrendo com a alta do preço do milho, alavancada pela seca, segundo Evan. “O confinamento como nós conhecemos hoje é realmente predicado na disponibilidade de milho barato. Os dias de milho barato provavelmente acabaram, se não estiverem para terminar”, diz ele.

Rabobank, um grande financiador de agricultura, lançou um relatório prevendo preços recordes para o gado pronto para o abate em 2013. “A maior queda do gado do mundo está vindo, o que em curto prazo causará uma diminuição no preço da carne”, diz Evan. Mas o preço voltará a subir como nunca, logo depois. O consumo de carne bovina vem caindo nos últimos dez anos, e os consumidores já estão recorrendo a outras alternativas de fontes proteicas para enfrentar a alta nos preços.


“O confinamento também depende muito de combustíveis fósseis baratos”, afirma Shannon Hayes, escritora de receitas e blogueira que fala do trabalho em uma fazenda de gado ruminante em GrassfedCooking.com. Como nenhuma fonte conhecida de combustível poderia suprir as necessidades energéticas de um local de confinamento sem deixar de oferecer uma relação custo-benefício que fizesse sentido economicamente, então não há muita saída. Alguns estão se aventurando no campo da energia solar, mas isso só vai funcionar para pequenas propriedades familiares.

Há mais desafios em longo prazo. Um deles é a dependência excessiva em antibióticos para que os animais sejam protegidos de infecções causadas pela superpopulação das fazendas de confinamento. Há evidência de que bactérias resistentes estão se proliferando nesses animais. Mas mesmo que isso não se mostre uma ameaça relevante, o governo pode eventualmente reprimir os antibióticos, tornando a configuração claustrofóbica difícil de manter.

Além disso, pode haver mais resistência ainda ao confinamento conforme mais pessoas se incomodarem com “as quantidades insustentáveis de gases, incluindo metano e óxido nitroso, entrando na atmosfera através da flatulência e das fezes das populações ultraconcentradas de animais”, diz Karen Davis, presidente da United Poultry Concerns, uma organização pelo direito das aves.

O problema principal, para Evan, será a alta do preço da ração. Sem ela, o sistema desaba.

Alguns cenários para um mundo pós-confinamento:

Haverá mais carne orgânica local “hippie”

Quando o consume de carne cair bastante, nós iremos começar a consumir carne orgânica produzida localmente, segundo Evan. Ele acredita no aumento do consumo dessas carnes, ainda que sejam muito mais caras que carne industrial. O produto será destinado a uma elite de consumidores, que se alimentarão dela somente em ocasiões especiais.

Nós mudaremos a maneira como consumimos carne.

“Hoje, nós comemos apenas algumas partes dos animais, seja pela presença de muita gordura em áreas menos tradicionais do boi ou apenas por preferência”, diz Shannon. Mas isso mudará conforme os preços aumentarem e nós reaprendermos a consumir cortes menos nobres e gordurosas. Como a carne gordurosa alimenta por mais tempo, nós começaremos a consumir os animais por completo, voltando ao sistema antigo em que o “caldo de carne formou a fundação da nutrição familiar”. Shannon fala mais do assunto em seu livro “A Lot on a Little”.


O gado deve comer algo diferente de milho

Mas comer o quê? Alguns acham que serão algas comestíveis, pelo menos para porcos e vacas. É bem difícil produzir algas, segundo Evan, mas tudo o que você precisa são nutrientes, dióxido de carbono e luz solar. Já existem projetos pilotos para criar sistemas de agricultura com locais de cultivação de algas. Como elas não precisam do espectro total da luz, seria possível criar um sistema de luzes com apenas o necessário para o crescimento.

Uma solução é colocar as fazendas de algas próximas a usinas de energia elétrica, por expelirem muito gás, para que o excesso de dióxido de carbono e o calor sejam usados na produção das algas. “Uma última vantagem é que elas não precisam de tanta água quanto o milho”, diz Evan.

Nós, talvez, teremos fontes “novas” de proteínas

Por exemplo, as algas. Sim, se as algas serão possivelmente usadas para alimentar porcos que, por sua vez, nos alimentarão, então por que não encurtar o caminho? “A não ser que surja um “sistema proteico extremamente industrial” que misture plantas e criaturas marinhas e não envolva animais terrestres”, sugere Evan.

Algumas fontes proteicas bem nojentas

Como já vem se falando ultimamente, os invertebrados podem ser uma boa fonte de proteína. Aliás, eles não serão apenas bons, mas essenciais. E se você acha isso realmente nojento, lembre-se que as lagostas, tão finas hoje, já foram consideradas asquerosas há não muito tempo – e elas eram dadas a prisioneiros.

Até o sushi e outros pratos típicos japoneses eram alvos de piadas nos EUA há 20 anos, e hoje existem em quase todo shopping. Comidas que nós um dia achamos nojentas podem ser parte fundamental da nossa dieta em menos tempo do que se imagina.

Hoje, já existem carnes feitas de fungos chamados Quorns, que são vendidas como nuggets de frango. “Uma vez que você tenha processado, assado e fritado, tudo tem gosto de frango”, diz Evan.

É possível comer carne in vitro

Já existem carnes sendo produzidas em laboratório, mas elas ainda são muito caras para o público em geral, e muito difíceis para uma produção em massa. Mas no futuro, essas dificuldades já deverão ter sido vencidas, de modo que a carne tradicional será reservada para ocasiões especiais, diz Evan.


Mais pessoas terão de virar fazendeiras

“Hoje, só 2% da população americana é fazendeira, mas essa porcentagem voltará a subir”, acredita Shannon. “Durante a guerra, Victory Gardens conseguiu suprir a necessidade de vegetais de 40% da população, e o espírito deve voltar em breve”, diz a escritora que prevê “um número crescente de fazendas pequenas, porcos compartilhados nos subúrbios, frangos urbanos, apiários de telhados nas cidades, bois e cabras pastando pelos acostamentos em vez de cortadores de grama”. Em vez de tanta grama, os americanos começarão a plantar mais jardins, prevê Shannon.


 Quanto tempo levará a transição?

Shannon afirma: “Eu não acho que isso vai acontecer num piscar de olhos. Eu acho que nós já estamos vendo isso acontecer. Fazendeiros que eu vejo regularmente falam sobre como tornar seus negócios mais resistentes às mudanças climáticas e faltas de combustível fósseis. Famílias estão começando a plantar a própria comida para cortar gastos (a crise econômica atual está certamente ajudando a nos forçar a viver mais sustentavelmente)”.

“Dito isso, a transição não será fácil para todos. Há trabalho duro para fazer, e haverá pessoas pegas de surpresa. A coisa é, quanto mais de nós começarmos a trabalhar em transição agora, mais resistentes nossas comunidades serão. E quando nossas comunidades ficarem mais resistentes, será mais fácil ajudar mais pessoas a fazer a mudança quando ela se fizer necessária. Eu não gosto de prever um futuro temível porque se estamos com medo disso, nós não faremos as mudanças necessárias, e a mudança é urgente”

“E se nós pudermos fazer a transição, então eu me sinto confiante de que a vida que nos alegra no outro lado pode ser muito mais aproveitável, saudável, significante que o desespero silencioso que confronta tantos povos hoje. Pode ser bom. Mas nós temos que fazer o trabalho para que realmente seja”, finaliza.

Fonte


Acho que o ser humano deve consumir mais peixes, nem que para isto seja necessária um grande estímulo à pscicultura, com grandes tanques de criação de peixes. Criar assim também sobrecarrega menos o mar. Também creio que um dia o consumo de insetos será massificado, pois como sabe-se, eles possuem muitas proteínas, vitaminas e pouca gordura. Só não é hoje em dia por mera questão cultural. Acho que com o aumento da população mundial, realmente teremos mudanças na maneira de nos alimentar.


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