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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Precisamos de um jornalismo-urubu?



Na cobertura jornalística que pode ser vista no caso do incêndio da boate em Santa Maria (RS), vemos de novo os interesses editoriais acima do bom jornalismo, além da busca pela face do terror. Existem vários protagonistas nesta história, todos com sua parcela de culpa.
De um lado, vemos os leitores, com uma curiosidade mórbida e macabra, atrás de fotos dos corpos dos jovens que morreram na fatalidade. Isto gera uma grande demanda. Nas redes sociais, o fenômeno pode ser visto constantemente. Páginas que espalharam fotos dos cadáveres, assim como vídeos, ganham muitos compartilhamentos.

Portais como o do jornal “O Estado de S.Paulo”, “Folha de São Paulo” e muitos outros publicaram em seus sites e suas páginas do Facebook vídeos onde podem ser vistos os corpos, que geraram muitas curtidas e compartilhamentos. Para os veículos, isto é ótimo, pois mostram visibilidade e mais argumentos para os mesmos cobrarem mais de seus anunciantes.

Na cobertura em si, vemos profissionais da imprensa explorando fotos dos pais dos jovens, em poses onde aparecem chorando em prantos e outras imagens apelativas. Em grandes programas, como o “Fantástico”, do dia 27 de janeiro, foram ao ar longas matérias, com músicas de fundo emotivas e que geraram uma boa audiência. Novamente, mais dinheiro para os conglomerados de mídia. No programa de “Ana Maria Braga”, na manhã de segunda-feira, 28, entrevistas com mães de falecidos, que nada agregam ao desenrolar da história, garantiam novamente mais verbas publicitárias à apresentadora e exploravam a tragédia. Em diversas entrevistas com figurões da mídia como a referida apresentadora, assumem abertamente que vale tudo pela audiência. Ou seja, mais dinheiro e menos dignidade é o que vale. Em diversos momentos, a justiça já condenou ou tirou do ar programas que agiam assim, mas isto é cada vez menos visto.

Temos visto pouca serenidade no jornalismo brasileiro. O "vale-tudo" pela notícia tem sido uma tônica da imprensa nacional, onde jornalistas são mandados para o “front” da notícia a obrigação de trazer matérias que cada vez mais desrespeitam a dignidade humana, tudo em nome do lucro das empresas jornalísticas e para satisfazer o ego de alguns “jornalistas populares”, como páginas de redes sociais que muitas vezes se intitulam “humoristas” e querem cada vez mais e mais fama nas redes sociais. Páginas que muitas vezes acabam por vender pequenos espaços publicitários que apesar de não renderem tanto capital quanto o que lucra um grande jornal, geram alguns bons trocados aos seus donos.

No final das contas, temos um público-leitor sem ceticismo, sem senso-crítico e sem capacidade de questionamento, que compram um jornalismo muitas vezes vazio e que apenas explora a tragédia de maneira fútil, sem apurar as causas reais das mesmas, com serenidade zero.
O fenômeno pode ser visto em muitos países, mas gostaria, como jornalista, que o público-consumidor de jornalismo brasileiro parasse um dia de dar audiência para esta guerra da informação vazia e desrespeitosa, valorizando e buscando cada vez mais o que realmente importa, como a investigação científica e política dos fatos, a busca pelos culpados das desgraças e não o macabro compartilhamento de fotos de cadáveres. Somos humanos ou apenas animais sem sensibilidade, que regozijam-se com a foto de um jovem morto e carbonizado?

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