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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Professores japoneses que não se curvam ao Imperador






Já faz algum tempo que anda circulando pelo Facebookuma frase que indica um suposto comportamento cultural no Japão e que serviria para levantar o moral dos professores brasileiros. Acontece que esta frase, replicada por tanta gente, não condiz com a realidade — e o pior: se condissesse, ainda assim não deveria servir de exemplo.







Eis a mensagem em questão:


“No Japão, o único profissional que não precisa se curvar diante do imperador é o professor, pois segundo os japoneses, numa terra que não há professores não pode haver imperadores”.


Esse boato começou esse ano na rede social do Brasil, e de repente virou uma grande verdade. Mas — eis o grande mal do brasileiro — parece que mais uma vez as pessoas estão engolindo e replicando uma mentira sem refletir sobre o assunto, fato que não é nenhuma novidade no Facebook.




É fato altamente verificável que em muitos outros países, a profissão de professor é respeitada, valorizada e admirada pela população e pelos governantes. Certamente é o caso do próprio Japão. Mas esse boato de que é o único profissional que “não precisa se curvar diante do Imperador” é um tanto problemática. Primeiro, porque eu nunca ouvi falar dessa situação, e esse rumor só começou a existir há poucas semanas em blogs e algumas poucas páginas brasileiras, cuja fonte é... o próprio Facebook. Fiz uma pesquisa em sites de língua inglesa e espanhola, e nada comprova essa situação; e segundo: bem, esse é o problema mais sério...




Segundo o texto, a justificativa dos professores não precisarem se curvar diante do Imperador é porque “numa terra que não há professores não pode haver imperadores”. Isso tem sido divulgado como um ponto positivo a nosso favor...





Se o “imperador” americano se curva diante do imperador japonês, o que dirá o professor


Não sei se mais alguém percebeu o mal-estar dessa afirmação, mas o que está bem explicito ali é: “se não fossem os agentes do ensino em sala de aula pregar as maravilhas do nosso Império, a bondade, a lealdade e a firmeza do nosso querido Imperador, se não fosse por eles que desde cedo implantam nas cabeças de nossas crianças a ideologia do império japonês, eu não poderia estar sentado neste trono agora, obrigado professores!”




Em nenhum lugar do planeta tal atitude deveria ser louvada, mas no Brasil... a gente vai passando adiante as coisas sem nem ao menos pensar sobre o assunto...




É claro que o ato de ensinar não prima pela neutralidade. Todo professor carrega consigo os seus valores e as ideias de seu tempo. Também já foi o tempo da escola tradicional onde o aluno assimila passivamente os ensinamentos do mestre. Mas uma postura francamente direcionada para a louvação de um sistema de governo, o Império japonês ou próprio imperador, não me parece algo digno de exemplo, nem que seja para evitar uma leve inclinação de cabeça.




Aparentemente é uma questão sem maior importância, mas esse é um exemplo modelar de como boatos e pensamentos irrefletidos e replicados podem criar uma verdade que não tem a menor base de credibilidade, e que, ainda pior, podem esconder uma característica nociva. Pense nisso.





Almir Ferreira-Rama na Viana

Leia também " O Japão mágico do Facebook"

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